segunda-feira, 14 de julho de 2008

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Homenagem a Manuel Marulanda

Homenagem a Manuel Marulanda

por James Petras

Pedro Antonio Marín Marín, mais conhecido como Manuel Marulanda Vélez e "Tirofijo", era o líder máximo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Foi, sem dúvida alguma, o maior camponês revolucionário da história do continente americano. Durante sessenta anos organizou movimentos camponeses e comunidades rurais e, quando todas as vias democráticas legais se lhe fecharam de forma brutal, criou o exército guerrilheiro mais poderoso da América Latina e as milícias clandestinas que o sustentavam. Em sua época de maior apogeu, entre 1999 e 2005, as FARC contavam com quase 20 mil combatentes, várias centenas de milhares de camponeses activistas e centenas de unidades de milícias comunais e urbanas.

Inclusive hoje, apesar do deslocamento forçado de três milhões de camponeses como resultado das políticas de terra arrasada e os massacres do governo, as FARC têm entre 10 a 15 mil guerrilheiros em suas numerosas frentes, distribuídas por todo o país.

O que faz tão importantes as conquistas de Marulanda são suas habilidades organizativas, sua agudeza estratégica e suas intransigentes posições programáticas, baseadas no apoio às exigências populares. Mais que qualquer outro líder guerrilheiro, Marulanda tinha uma compenetração sem par com os pobres das zonas campesinas, os sem-terra, os cultivadores pobres e os refugiados rurais durante três gerações.

Após começar, em 1964, com dúzias de camponeses que haviam fugido de povoados devastados por uma ofensiva militar dirigida pelos EUA, Marulanda construiu metodicamente um exército guerrilheiro revolucionário sem contribuições económicas ou materiais estrangeiras. Mais que qualquer outro líder guerrilheiro, Marulanda foi um grande mestre político rural. Os extraordinários dotes organizativos de Marulanda se foram refinando através de sua íntima vinculação com o campesinato. Como havia crescido numa família de camponeses pobres, viveu entre eles cultivando e organizando-os: falava sua mesma linguagem, se ocupava de suas necessidades diárias mais básicas e de suas esperanças de futuro. De maneira conceptual, porém também através da experiência quotidiana, Marulanda realizou uma série de operações políticas e militares estratégicas baseadas em seu brilhante conhecimento do terreno geográfico e humano.

Desde 1964 até sua morte, Marulanda derrotou ou escapou de, ao menos, sete importantes ofensivas militares financiadas com mais de sete mil milhões de dólares de ajuda militar americana, que incluía milhares de "boinas verdes", corpos especiais, mercenários, mais de 250 mil militares colombianos e 35 mil paramilitares integrados em esquadrões da morte.

Diferentemente de Cuba ou Nicarágua, Marulanda construiu uma base de massa organizada e treinou uma direcção, em grande parte, rural; declarou abertamente seu programa socialista e nunca recebeu apoio político ou material dos denominados "capitalistas progressistas". Ao contrário dos corruptos e ambiciosos gangsters de Batista e Somoza, que saqueavam e se retiravam sob pressão, o exército da Colômbia era um formidável aparelho repressor, altamente treinado e disciplinado, reforçado, ademais, por homicidas esquadrões da morte.

Ao contrário de outros famosos guerrilheiros "de posters", Marulanda foi um autêntico desconhecido entre os elegantes editores esquerdistas de Londres, os nostálgicos sessenta-e-oitistas parisienses e os socialistas eruditos de Nova York. Marulanda passou seu tempo exclusivamente na "Colômbia profunda"; preferia conversar e ensinar aos camponeses e inteirar-se de suas queixas a conceder entrevistas a jornalistas ocidentais ávidos de aventura. Ao invés de escrever manifestos grandiloquentes e adoptar poses fotogénicas, preferia a pedagogia popular dos deserdados, estável e pouco romântica, porém sumamente eficaz.

Marulanda viajou desde vales e cordilheiras praticamente inacessíveis a selvas a planícies, sempre a organizar, lutar, recrutar e treinar novos líderes. Evitou apresentar-se nos "fóruns de debate do mundo" ou seguir a rota dos turistas esquerdistas internacionais. Nunca visitou uma capital estrangeira e contam que jamais pôs os pés em Bogotá, a capital da nação. Porém, tinha um amplo e profundo conhecimento das exigências dos afro-colombianos da costa; dos indo-colombianos das montanhas e da selva; da fome de terra de milhões de camponeses deslocados; dos nomes e endereços dos latifundiários que brutalizavam e violavam os camponeses e seus familiares.

Durante as décadas dos 60, 70 e 80, numerosos movimentos guerrilheiros se levantaram em armas, lutaram com maior ou menor capacidade e logo desapareceram assassinados, derrotados (alguns, inclusive, se converteram em colaboradores) ou se integraram nas partilhas e re-partilhas eleitorais. Pouco numerosos, lutavam em nome de inexistentes "exércitos populares"; a maioria era de intelectuais, mais familiarizados com os discursos europeus que com a micro história, a cultura popular e as lendas dos povos aos quais tratavam de organizar. Foram isolados, cercados e arrasados; deixaram, talvez, uma herança bem divulgada de sacrifício exemplar, porém não mudaram nada sobre o terreno.

Pelo contrário, Marulanda encaixou os melhores golpes dos presidentes contra-insurgentes de Washington e Bogotá e os devolveu em 100%. Por cada povoado arrasado, Marulanda recrutava dúzias de camponeses lutadores, enfurecidos e desamparados e treinava-os com suma paciência para que fossem quadros e comandantes. Mais que simples exército guerrilheiro, as FARC chegaram a ser um exército de todo o povo: um terço dos comandantes eram mulheres, mais de setenta por cento eram camponeses, se bem que se associaram intelectuais e profissionais, que foram treinados por quadros do movimento.

Marulanda foi um homem venerado por seu estilo de vida excepcionalmente simples: compartilhou a chuva torrencial sob cobertas de plástico. Milhões de camponeses o respeitavam profundamente, porém nunca praticou o culto à personalidade: era demasiado irreverente e modesto, preferia delegar as tarefas importantes a uma direcção colectiva, com muita autonomia regional e flexibilidade táctica. Aceitou um amplo leque de opiniões sobre tácticas, mesmo quando discordava profundamente delas. Em princípios dos 80, muitos quadros e líderes decidiram testar a via eleitoral, firmaram um "acordo de paz" com o presidente colombiano, criaram um partido – a União Patriótica – e fizeram eleger a numerosos presidentes de municipalidades e deputados. Obtiveram mesmo numerosos votos nas eleições presidenciais.

Marulanda não se opôs publicamente ao acordo, porém não abandonou as armas nem "baixou desde as montanhas às cidades". Muito mais lúcido que os profissionais e os sindicalistas que se postulavam nas eleições, Marulanda compreendia o carácter extremamente autoritário e brutal da oligarquia e seus políticos. Sabia que os governantes da Colômbia não aceitariam nunca uma reforma agrária justa só porque uns "poucos camponeses analfabetos os derrotarem nas urnas". Em 1987, mais de 5.000 membros da União Patriótica haviam sido assassinados pelos esquadrões da morte da oligarquia, entre eles três candidatos à presidência, uma dúzia de congressistas e mulheres e alcaides e vereadores. Os sobreviventes fugiram para a selva, reincorporaram-se à luta armada ou marcharam para o exílio.

Marulanda era um mestre na hora de romper os cercos e evitar as campanhas de aniquilação, sobretudo as que elaboraram os melhores e mais brilhantes estrategistas do centro de contra-insurgência dos Corpos Especiais do US Fort Bragg e da Escola das Américas. Em fins dos 90, as FARC haviam ampliado seu controle a mais da metade do país, bloqueavam auto-estradas e atacavam bases militares situadas a apenas 65 quilómetros da capital. Muito debilitado, o então presidente Pastraña terminou por aceitar negociações sérias de paz, nas quais as FARC exigiram uma zona desmilitarizada e um programa que incluía mudanças estruturais básicas no Estado, na economia e na sociedade.

Ao contrário das guerrilhas centro-americanas, que trocaram as armas por cargos eleitorais, antes de depor as suas Marulanda insistiu na redistribuição da terra, no desmantelamento dos esquadrões da morte, na destituição dos generais colombianos implicados nos massacres, numa economia mista baseada em boa medida na nacionalização dos sectores económicos estratégicos e no financiamento em grande escala dos camponeses para o desenvolvimento de colheitas alternativas à coca.

Em Washington, o presidente Clinton assistia histérico àquele espectáculo e opôs-se às negociações de paz, em especial ao programa de reformas, assim como aos debates públicos abertos e aos foros de debate organizados pelas FARC na zona desmilitarizada, aos quais assistiam numerosos membros da sociedade civil colombiana. A aceitação, por parte de Marulanda, do debate democrático, da desmilitarização e das mudanças estruturais desmascaram a mentira dos social-democratas ocidentais e latino-americanos e dos universitários de centro-esquerda que o acusaram de "militarista". Washington tratou de repetir o processo de paz centro-americano enganando os chefes das FARC com a promessa de cargos eleitorais e privilégios — desde que vendessem os camponeses e os colombianos pobres. Ao mesmo tempo, Clinton, com o apoio dos dois partidos do Congresso, fez aprovar um projecto de lei de apropriação de dois mil milhões de dólares para financiar o maior e mais sangrento programa de contra-insurgência desde a guerra da Indochina, denominado "Plano Colômbia". O presidente Pastraña deu por terminado, de forma abrupta, o processo de paz e enviou soldados à zona desmilitarizada a fim de que capturassem a direcção das FARC. Porém, quando estes chegaram, Marulanda e seus companheiros já se haviam ido.

Desde 2002 até agora, as FARC têm alternado os ataques ofensivos e as retiradas defensivas, em especial desde finais de 2006. Com um financiamento sem precedentes e um apoio tecnológico ultramoderno dos EUA, o novo presidente Álvaro Uribe – sócio de narcotraficantes e organizador de esquadrões da morte – adoptou uma política de terra queimada para enfurecer-se com o campo colombiano. Entre sua eleição em 2002 e sua reeleição em 2006, mais de 15 mil camponeses, sindicalistas, activistas de direitos humanos, jornalistas e outros críticos foram assassinados. Regiões inteiras do campo foram esvaziadas: da mesma maneira que na Operação Fénix americana no Vietname, a terra de cultivo foi contaminada com herbicidas tóxicos. Mais de 250 mil soldados e seus amigos paramilitares dos esquadrões da morte dizimaram amplas zonas do campo colombiano controladas pelas FARC. Helicópteros proporcionados por Washington bombardearam a selva em missões de busca e destruição (que nada tinham a ver com a produção de coca ou com o envio de cocaína para os EUA). Ao destruir toda a oposição popular e as organizações camponesas e ao deslocar milhões de colombianos, Uribe logrou empurrar as FARC para regiões mais remotas. Assim como havia feito no passado, Marulanda assumiu uma estratégia de retirada táctica defensiva, abandonando território para proteger a capacidade de luta dos guerrilheiros no futuro.

A contrário de outros movimentos guerrilheiros, as FARC não receberam nenhum apoio material do exterior: Fidel Castro repudiou publicamente a luta armada e buscou laços diplomáticos e comerciais com governos de centro-esquerda, inclusive melhores relações com o brutal Uribe. Depois de 2001, a Casa Branca de Bush rotulou as FARC de "organização terrorista", pressionando Equador e Venezuela para que restringissem os movimentos fronteiriços das FARC em busca de abastecimentos. O "centro-direita" da Colômbia dividiu-se entre os que prestavam um "apoio crítico" à guerra total de Uribe contra as FARC e os que protestavam infrutiferamente contra a repressão.

É difícil imaginar que um movimento guerrilheiro possa sobreviver frente a um financiamento tão maciço da contra-insurgência, um 250 mil soldados armados pelo império, milhões de deslocados de suas terras e um presidente psicopata vinculado directamente a uma cadeia de esquadrões da morte com 35 mil membros. No entanto, sereno e resoluto, Marulanda dirigiu a retirada táctica; a ideia de negociar uma capitulação nunca lhe passou pela cabeça, nem a ele nem à direcção das FARC.

As FARC não têm fronteira contígua com um país que as apoie, como o Vietname com a China; tampouco goza, como o Vietname, do fornecimento de armas da URSS e do apoio maciço internacional de grupos ocidentais de solidariedade, como os sandinistas.

Vivemos numa época em que apoiar os movimentos camponeses de libertação nacional não está "na moda"; em que reconhecer que o génio de líderes camponeses revolucionários que constroem e mantêm a autêntica massa dos exércitos populares é tabu nos pretensiosos, loquazes e impotentes Fóruns Sociais Mundiais, cujo "mundo" exclui regularmente os camponeses militantes e para os quais "social" significa o constante intercâmbio de mensagens electrónicas entre fundações financiadas por ONGs.

É neste ambiente tão pouco promissor frente às pírricas vitórias dos presidentes dos EUA e da Colômbia que podemos apreciar o génio político e a integridade pessoal de Manuel Marulanda, o maior camponês revolucionário da América Latina. Sua morte não gerará cartazes ou t-shirts para estudantes universitários de classe média, porém viverá eternamente nos corações e nas mentes de milhões de camponeses da Colômbia.

Se recordará dele sempre como "Tirofijo", um ser legendário ao qual mataram uma dúzia de vezes e, apesar disso, regressou aos povos para compartilhar com os camponeses suas vidas simples. Tirofijo foi o único líder que era realmente "um deles", que durante meio século enfrentou o aparato militar e mercenário ianque e nunca foi capturado ou derrotado.

Os desafiou a todos em suas mansões, seus palácios presidenciais, suas bases militares, suas câmaras de tortura e suas burguesas salas de redacção. Morreu de morte natural, depois de sessenta anos de luta, nos braços de seus queridos companheiros camponeses.

Tirofijo presente!

em Resistir.info

domingo, 1 de junho de 2008

Comunistas griegos lamentan muerte de Manuel

Al Estado Mayor Central

y al Secretariado del Estado Mayor Central

de las FARC-EP

Estimados camaradas:

Con mucha tristeza recibimos su mensaje comunicándonos la muerte del camarada Manuel Marulanda Vélez, líder de las FARC-EP por más de 44 años.

El movimiento revolucionario de Colombia y de toda América Latina perdió a un luchador destacado y un revolucionario cuyo nombre y vida han sido vinculados con la lucha contra el imperialismo, por la liberación social y el socialismo, que ha tenido una contribución decisiva al crecimiento de los movimientos antiimperialistas que se desarrollan en los últimos años en América Latina. La continuación de la lucha hasta la victoria final es el mejor homenaje a su memoria.

Nuestro Partido sigue firmemente solidario con la lucha que libran las FARC-EP y el movimiento popular en Colombia en general por la paz con justicia social. Esta lucha es aún más actual hoy en las condiciones de escalamiento la agresividad del régimen reaccionario de Uribe y del imperialismo norteamericano. Apoyamos la lucha por que se reconozcan como fuerza beligerante y por que salgan de inmediato las FARC-EP de la lista de las organizaciones terroristas de la Unión Europea y que avance el acuerdo humanitario sobre el intercambio de prisioneros que niega el régimen uribista.

Les rogamos que transmitan a todos los camaradas y combatientes de las FARC-EP nuestro más profundo pésame y nuestros saludos revolucionarios.

El Comité Central del Partido Comunista de Grecia

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Comunicado de la UJCE


miércoles, 28 de mayo de 2008
Comunicado de la UJCE



Hace unos días nos abandonaba el Comandante Manuel Marulanda, “Tirofijo”. Aquel a quien la oligarquía y el imperialismo habían dado por muerto en decenas de ocasiones, murió de muerte natural, rodeado por sus camaradas.

Manuel Marulanda nos deja en momentos difíciles para los procesos de lucha y de cambio que vive la patria de Bolivar, sometidos a un constante acoso mediático, político y militar por parte del imperialismo y de las oligarquías locales. Este acoso tiene su máxima expresión en las políticas que el fascista Álvaro Uribe aplica en Colombia, bajos las órdenes de la Casablanca contra las fuerzas populares, políticas, sindicales, sociales y guerrilleras.

Tirofijo ha sido uno de los más importantes dirigentes guerrilleros que ha dado el pueblo latinoamericano. Fiel al marxismo-leninismo, poseedor de una excelente visión táctica y estratégica, firme en la defensa del programa y de un compromiso inquebrantable con la lucha de los miles de hombres y mujeres que luchan contra el imperialismo y por el socialismo en Colombia, en Latinoamérica y en el mundo.

Tirofijo fue un dirigente campesino y un comunista, no un “terrorista” como intentan hacer crear el coro mediático servil a los intereses del imperialismo. Alguien a quien también “absolverá la Historia”.

Transmitimos nuestro pésame al Secretariado de las FARC-EP.

Seguimos apoyando decididamente la lucha del pueblo colombiano y apostando por una salida política del conflicto armado.

Marulanda, herói da América Latina

Miguel Urbano Rodrigues - 28.05.08

Sucessivos governos da Colômbia anunciaram a sua morte vinte vezes. As cadeias de televisão e a grande imprensa da Europa e dos EUA comentaram esse acontecimento e, com poucas excepções, insultaram e caluniaram o combatente. Depois divulgaram desmentidos para o ressuscitar. Porque Manuel Marulanda continuava vivo, lutando nas montanhas e selvas do seu país.

Ele sabia que não era eterno. Faleceu no dia 26 de Março. Mas, para decepção do fascismo colombiano e do imperialismo não foram as bombas e mísseis que abateram o comandante-chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-FARC. Marulanda morreu de um enfarte, algures na selva, com a sua companheira ao lado, rodeado de camaradas.

É necessário subir até Bolívar para encontrar na história da América Latina alguém com uma trajectória comparável. Ambos lutaram no mesmo cenário; ambos realizaram feitos que trazem à memória heróis mágicos da Ilíada de Homero. Mas, ao contrário do Libertador, Marulanda nasceu pobre numa família de camponeses do Quindio. Foram o espectáculo da miséria das populações rurais da Cordilheira e o sentimento de revolta contra a repressão de que elas eram alvo que fizeram dele um revolucionário. O guerrilheiro que aprendeu a ler já adulto tornou-se comunista ao compreender que a autodefesa dos camponeses era inseparável de uma luta maior, de dimensão planetária, contra a engrenagem de poder responsável pela violência que os esmagava e pela situação semi-colonial da sua pátria.

Quando a oligarquia bogotana e antioquenha identificou uma ameaça naquela «rebelde» que recusava amnistia e não se submetia, mobilizou um exército de 10.000 homens para destruir o grupo guerrilheiro que na remota Marquetália não entregava as armas.

Marulanda contava somente com 46 combatentes. Ocorreu então um dos muitos impossíveis que iriam marcar a sua vida de lutador. A guerrilha, combatendo quase diariamente, rompeu o cerco. Essa saga esteve na raiz das FARC. A guerrilha de Marquetália, armada com uma ideologia humanista e revolucionária, transformou-se com o rodar dos anos no Exército Revolucionário do Povo, uma força avaliada em 15.000 combatentes, que se bate hoje, 44 anos após a sua criação, contra o Exército de Uribe em 60 Frentes.

O escritor Arturo Alape, num livro belo, recorda situações e factos que, pela atmosfera de excepcionalidade, mais parecem coisa de magia.

Mas foram reais.

Marulanda atravessou muitas vezes os Andes, combatendo. Na Colômbia a Cordilheira ciclópica divide-se em três ramificações, separadas por vales profundos. E uma coluna das FARC, sob o seu comando, repetiu o que era considerado absolutamente impossível. Cruzou a Cordilheira Central, de Ocidente para Oriente, através de desfiladeiros ocupados pelo exército, rompendo sucessivos cercos numa campanha que leva Arape a concluir que Marulanda como estratego somente encontra precedentes em Alexandre, Aníbal e Napoleão.

ENCONTRO COM TIRO FIJO

A vida proporcionou-me a oportunidade de encontrar uma vez Marulanda. Foi em Junho de 2001 na aldeia amazónica de La Macarena, após um almoço oferecido pelas FARC a delegações da Cruz Vermelha e de diferentes países que tinham acompanhado o processo de intercâmbio humanitário de prisioneiros. As FARC, em gesto unilateral, tinham libertado naquela manhã uns 300 prisioneiros quase todos militares capturados em combate.

Foi o comandante Raúl Reyes, de quem eu era convidado, que me apresentou ao comandante-chefe das FARC, o então já legendário Tiro Fijo, como era conhecido pela sua pontaria. Durou escassos minutos a troca de palavras porque Marulanda estava rodeado de embaixadores de países europeus.

Chovia torrencialmente e a água que se despenhava do céu em cataratas sobre a cobertura de plástico que protegia o terreiro do almoço produzia um ruído tão forte que dificultava as conversas. Mas não esqueci que os diplomatas se dirigiam com muito respeito ao dirigente revolucionário, disputando-lhe a atenção.

Nenhum dos presentes poderia naquele dia prever que a União Europeia, cedendo a pressões de Washington, iria definir as FARC como organização terrorista e que o futuro governo de Uribe colocaria a prémio, por milhões de dólares, a cabeça de Manuel Marulanda.

Recordo também ter pedido ao comandante-chefe que me concedesse uma entrevista.

Quase lhe escuto ainda a sua resposta ao pedido, pronunciada com a lentidão que lhe tornava a voz inconfundível. Sugeriu uma data posterior ao meu regresso a Havana, cidade onde então eu residia.

Pedi-lhe então que respondesse apenas a três perguntas que enviaria por uma colega cubana, que, essa sim, poderia entrevistá-lo no dia proposto. Marulanda concordou e cumpriu. A entrevista foi publicada no Avante!

A LUTA DAS FARC PROSSEGUE

Desde essa jornada na Macarena, o governo da Colômbia anunciou várias vezes que Marulanda falecera ou estava moribundo. Mentia. Como mentiu ao repetir em diferentes ocasiões que as FARC tinham recebido golpes tão duros que estavam à beira da desagregação.

Não obstante aparecerem, com os seus 380.000 homens, como as mais poderosas da América Latina – equipadas com armas que Washington somente fornece a Israel – as Forças Armadas da Colômbia acumularam derrotas em todas as ofensivas que tinham por objectivo o aniquilamento das FARC. O resultado decepcionante do Plano Patriota nos Departamentos do Caquetá e do Meta ficou, aliás, transparente na renúncia de meia dúzia de generais do Exército.

O povo colombiano tem hoje consciência de que a escalada belicista de Uribe fracassou e que não há solução militar para a guerra civil.

Mas o governo neofascista de Bogotá fecha as portas ao intercâmbio humanitário de prisioneiros nas bases propostas pelas FARC que implicariam a retirada prévia de todas as forças militares dos municípios de Florida e Pradera.

As FARC numa demonstração de boa vontade, entregaram, entretanto, à Cruz Vermelha Internacional alguns prisioneiros em gesto unilateral. Mas Uribe respondeu inviabilizando a mediação de Hugo Chávez e da senadora liberal Piedad Cordoba.

A campanha, de matizes farisaicos que exige incondicionalmente a libertação de Ingrid Betancourt veio porém criar, paradoxalmente uma situação muito incómoda para Uribe. Ao tomar conhecimento de contactos entre o comandante Raúl Reyes e o governo francês, o presidente colombiano concebeu e executou – com a cumplicidade da Casa Branca e do Pentágono – o plano cujo desfecho foi o assassínio daquele comandante das FARC e de mais vinte dos seus camaradas na acção criminosa que violou a soberania do Equador.

A morte de Marulanda ocorreu a 26 de Março no auge da campanha de desinformação promovida pelo fascismo uribista – depois da manipulação dos computadores de Raúl Reyes – com o fim de comprometer os presidentes da Venezuela e do Equador e de apresentar as FARC como envolvidas em negócios do narcotráfico e de armas.

Tornar publico o falecimento de Marulanda nos dias em que Uribe proclamava, triunfalista, que as FARC estavam em processo de destruição como força de combate permitiria ao presidente neofascista utilizar o acontecimento para promover a confusão e a desinformação.

A divulgação da notícia foi assim atrasada durante muitas semanas até chegar ao conhecimento do governo de Bogotá.

A partir de então ocorreu o que se previa. Para além da torrente de calúnias da propaganda oficial, os epígonos do uribismo não se limitaram a festejar a morte de Marulanda, apresentando-o como bandoleiro e assassino. De especulação em especulação identificaram no desaparecimento do comandante-chefe da organização guerrilheira o prólogo do seu fim iminente. As Forças Armadas chegaram ao absurdo de afirmar que teria morrido possivelmente durante um bombardeamento do seu acampamento.

Perante as proporções da orquestração reaccionária, o secretariado do Estado-Maior Central das FARC considerou chegado o momento de tornar pública a morte de Manuel Marulanda. A notícia foi divulgada através de um comunicado lido pelo comandante Timoleón Jimenez e transmitido em primeira-mão pela Telesur venezuelana. Nesse documento a direcção das FARC informa que o novo comandante-chefe é o Comandante Alfonso Cano. E prestando comovida homenagem a Marulanda, pela sua capacidade de liderança, lucidez ideológica e talento como estratego militar, sublinham a decisão inquebrantável de prosseguir em todas as Frentes até â vitória final a luta pelo «poder político, por uma sociedade de justiça social e pelo socialismo».

As campanhas de calúnias contra as FARC vão continuar, paralelas à guerra cujo objectivo é o seu aniquilamento.

O fim desta guerra não tem data no calendário. Mas o povo da Colômbia já percebeu que Uribe e os seus ministros somente deixaram marcas na História pelos seus crimes. E está consciente de que Manuel Marulanda conquistou já a eternidade, ocupando lugar ao lado de Bolívar no panteão dos heróis autênticos da América Latina.

Serpa, 27 de Maio de 2008

retirado de odiario.info

terça-feira, 27 de maio de 2008

PCV rinde homenaje a Manuel Marulanda



Caracas, 27 Mai (Lusa) -- O secretário-geral do Partido Comunista da Venezuela (PCV), Óscar Figuera, defendeu na segunda-feira, em Caracas, a existência de uma "aliança estratégica" entre aquele partido político e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

"O PCV e as FARC somos aliados estratégicos na luta contra o imperialismo", disse aquele responsável, numa entrevista ao canal privado televisivo de notícias Globovisión.

Por outro lado, sublinhou que há uma "coincidência de propósitos políticos" entre aquele grupo guerrilheiro e o projecto liderado pelo Presidente Hugo Chávez, para implementar, no país, um regime de "socialismo do século XXI".

"O que não há é um plano, em que nos ponhamos de acordo, que vocês fazem isto e nós aquilo", disse.

Segundo Óscar Figuera, para os comunistas venezuelanos, as FARC não são um grupo terrorista mas sim "um movimento político, militar e ideológico" que "não consta" sejam responsáveis pelos atentados que lhe são atribuidos, ocorridos em território colombiano e inclusivamente no sul do Estado venezuelano de Apure.

Por outro lado, salientou que os militantes do PCV "não condenam a forma de luta armada, porque é parte das formas de luta frente a um Estado (colombiano) que fecha as vias democráticas".

Óscar Figuera pediu um aplauso para o número 1 das FARC, Manuel Marulanda (Tirofijo), falecido a 26 de Março, vítima de um problema cardíaco, mas cuja confirmação da morte só foi conhecida publicamente no último fim-de-semana.

Denunciou que os EUA e o Governo da Colômbia avançam com "um plano para criar uma matriz (de opinião) e dizer que o Governo venezuelano tem vínculos terroristas", com base em elementos "montados" em alegados arquivos encontrados no computador de Raul Reyes (o número dois das FARC), assassinado a 1 de Março pelo exército colombiano, durante uma incursão no Equador.

O Partido Comunista da Venezuela conseguiu, nas eleições presidenciais de Dezembro de 2006, 340.000 dos 7,2 milhões de votos que obteve o Presidente Hugo Chávez.

Promoveu, na segunda-feira, um minuto de aplausos, como homenagem post-mortem a Manuel Marulanda.

Nesse mesmo dia, o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, sublinhou, durante uma conferência de imprensa, que as relações que o Governo de Hugo Chávez manteve com as FARC ocorreram a pedido da Colômbia, como facilitador de um intercâmbio humanitário para trocar guerrilheiros detidos por reféns.

FPG

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Alfonso Cano asume el reemplazo de Marulanda

Por Tribuna Popular, Partido Comunista de Venezuela

Se ha marchado el gran líder y de sus inagotables enseñanzas que nos maduraron en todos estos años a su lado, hoy, en medio de nuestro dolor, queremos resaltar por su vigencia y gran valor su profunda confianza en nuestros principios revolucionarios planes, propuestas y en la victoria de la causa popular.

Desde la Montaña de Colombia. A través de un video entregado al canal Telesur, Timoleón Jiménez, miembro del Secretariado de Las FARC-EP, confirmó la muerte de quien fuera el máximo líder del grupo guerrillero desde 1964.

Timoleón Jiménez, miembro del Secretariado de las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia-Ejército del Pueblo (FARC-EP), confirmó la muerte de Pedro Antonio Marín, también conocido con los sobrenombres de Tirofijo o de "Manuel Marulanda Vélez", quien fuera el máximo líder del grupo guerrillero desde 1964.

Informó, en un video enviado al canal Telesur, que Marulanda murió el pasado 26 de marzo, "en brazo de su compañera y rodeado de su guardia personal y de su seguridad, luego de una breve enfermedad. Le hemos dado honrosa sepultura. Lo despedimos honrosamente en nombre de los miles y miles de guerrilleros farianos y boliarianos y de los miles y miles que lo aman por encima de la asquerosa campaña mediática contra las FARC."

Alfonso Cano pasa a reemplazar a Marulanda en el secretariado como nuevo comandante. Como integrante pleno del secretariado ingresa Pablo Catatumbo y como suplentes Bertulfo Álvarez y Pastor Alape. El comunicado también expresa que las FARC-EP continuarán sólidamente unidas y que se mantienen vigentes las propuestas alrededor de los acuerdos humanitarios y las salidas políticas.